História de Impacto: Ter água em casa é tudo

Maria Otercia chegou à comunidade de São Bento, no município de Santana do Seridó (interior do Rio Grande do Norte), há mais de quatro décadas. Recém-casada com Francisco, os dois jovens deixaram para trás a terra natal, onde a água era pouca, e decidiram fincar raízes onde pudessem cultivar não apenas plantações, mas também sonhos.

A casa era pequena. “Bem pequenininha”, como ela mesma diz. Os recursos eram escassos, mas a vontade de construir uma vida digna era imensa. Otercia e Francisco foram crescendo com a terra. Plantaram milho, feijão, capim e algodão. Criaram quatro filhos na casa que, tijolo por tijolo, foi se expandindo com o tempo, com o esforço de cada colheita.

A água sempre foi um capítulo importante nessa história. Nos primeiros anos, era do rio que vinham os baldes, os galões, os esforços. Francisco lembra: “A gente carregava a água com galão, no braço mesmo.” Maria completa: “Lavar roupa levava de três a quatro horas debaixo do sol.”

Com o tempo, o cenário mudou. Vieram o poço, a cisterna, a água encanada. “Hoje a gente tem duas fontes de água”, conta Francisco, “uma do poço, que é salobra, e outra da cisterna, doce e boa pra beber e cozinhar.” O conhecimento sobre cisternas, inclusive, é algo que ele quer passar adiante: “Vou orientar meu filho a ter uma também.”

Foi através do Agroamigo & Water.org, programa de microcrédito rural, que Maria Otercia viu um sonho antigo se realizar: ter um banheiro dentro de casa. “Antes era fora, e pra pessoa idosa isso é muito ruim”, diz ela com emoção. “Agora tenho um banheiro bom, limpinho. Olha como ele é bonito!” — e aponta com orgulho para a mais recente conquista dos seus mais de 44 anos de caminhada ao lado de Francisco.

A iniciativa para buscar o microcrédito veio do filho mais velho, que soube do programa e compartilhou com os pais. Ortêcia se emociona ao lembrar do agente de microcrédito que os acompanha: “Gosto demais dele. Foi com a ajuda dele que conseguimos tudo isso.” Francisco emenda, orgulhoso: “Esse programa melhorou 2000% a nossa vida!”

Hoje, os filhos não moram mais na casa dos pais, mas construíram suas próprias casas no mesmo terreno, ao redor. A água que chega até eles é compartilhada — símbolo de união e partilha entre as três gerações da família. Uma família que viu a paisagem mudar: do rio à cisterna, do lampião à energia elétrica.

Maria lembra com tristeza da época em que o rio secou, quando a filha mais nova ia à escola sem um real para merenda. Hoje, ela tem faculdade. Todos os filhos têm profissão. “A gente não tem estudo, mas a agricultura é tudo pra nós”, diz Francisco. “E ter água em casa é tudo”, completa Maria. “Não precisar buscar, saber que é limpa. Isso muda tudo.”

No quintal onde brota o milho e floresce o algodão, brotaram também conquistas, dignidade e um futuro mais leve. E no banheiro recém-construído, tão simples e tão especial, Maria Otercia vê mais que um cômodo: vê respeito, segurança e o resultado de uma vida de luta.